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Atualizado: 29 de abr. de 2020

Uma das perguntas que os ecólogos vêm tentando responder nos últimos tempos é “como a fragmentação afeta a biodiversidade?”. Diante dos resultados das pesquisas nessa área, podemos dizer que a resposta para essa questão ainda é bastante complexa. Já podemos, no entanto, ter uma noção clara de algumas dessas modificações.

A medida que a fragmentação aumenta, geralmente provocada por desmatamentos e queimadas, diminui proporcionalmente a área total de hábitats* disponíveis para espécies. Ou seja, quanto menos áreas naturais, menores são também os espaços para as espécies viverem e se reproduzirem. Isso provoca uma redução no número de plantas, animais e microrganismos que conseguem viver naquele lugar. 


Infelizmente, a redução das espécies provocada pela redução dos hábitats não é o único efeito negativo sobre a biodiversidade. A fragmentação também aumenta a vulnerabilidade dos ecossistemas nativos à invasão de espécies exóticas e ruderais**. Essas espécies são, normalmente, melhores competidoras que as espécies dos ecossistemas nativos e, devido a isso, elas tendem a se estabelecer e a eliminar as que viviam anteriormente naquele local. Isso acarreta uma redução ainda maior de espécies nativas e leva a uma completa descaracterização do ambiente.


A divisão e a redução dos hábitats também colocam as populações nativas em contato com plantas e animais domésticos. O que a primeira vista pode parecer inofensivo, é na verdade um grande problema para a conservação ambiental. As espécies nativas não são adaptadas às doenças das espécies domésticas e, quando ambas são colocadas em contato, essas doenças podem se espalhar rapidamente. Além disso, há possibilidade de doenças das espécies silvestres passarem para as domésticas e chegarem até mesmo a serem transmitidas para seres humanos (como por exemplo, a febre amarela silvestre).


Um ambiente fragmentado é um ambiente em desequilíbrio e, devido a isso, as teias alimentares podem sofrer alterações que acarretarão em uma redução ainda maior no número de espécies sobreviventes no local. Como exemplo, podemos citar o caso dos macacos-prego, que tendem a aumentar em ambientes de borda. Devido à sua capacidade de conseguir comida tanto no ambiente alterado (borda), quanto no ambiente intacto (interior do fragmento), as populações dessa espécie crescem rapidamente com a grande oferta de alimento. Com um número excessivo de macacos no fragmento, ocorre um massacre das espécies de pássaros, pois esses primatas comem vorazmente ovos e filhotes na floresta, impedindo que muitas espécies possam ter uma reprodução bem sucedida.


 A fragmentação dos hábitats pode também separar indivíduos de uma mesma espécie, reduzindo as populações e dificultando assim a reprodução e a sobrevivência. Como uma tentativa de sobrevivência ao hábitat fragmentado, muitas espécies podem desenvolver uma estrutura metapopulacional. O que são e como vivem as metapopulações é o tema do nosso próximo artigo. Até a próxima. 

 

 Deise Miola

Bióloga, PhD em Ecologia Conservação e Manejo de Vida Silvestre.


*Hábitat é um termo utilizado em ecologia para designar um local que possui as condições necessárias para a sobrevivência de uma espécie.

**Ruderal é o nome que se dá a uma espécie que se desenvolve bem em ambientes perturbados.
Deise
Deise Miola

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